“As comissões da verdade pelo país deveriam trabalhar não só pelo direito à memória, mas principalmente pelo direito à justiça”

ggO Encontro Regional Nordeste da Comissão da Verdade do ANDES-SN, é parte dos três encontros regionais preparatórios que antecedem o Seminário Nacional, programado para ser realizado em dezembro, na capital Federal. E com ele, traz a frase de ordem ensaiada durante todo o encontro: “As comissões da verdade pelo país deveriam trabalhar não só pelo direito à memória, mas principalmente pelo direito à justiça”. O evento, que aconteceu nos dias, 13 e 14 de novembro, trouxe o subtema Ditadura Empresarial-Militar na Repressão aos Movimentos Rurais e às Universidades do Nordeste, criando um espaço de estudo e exercício em defesa da revisão da Lei da Anistia e a responsabilização dos autores da tortura e outros crimes de lesa-humanidade ainda impunes no nosso país.

De acordo com Paulo Rodrigues, professor e membro da Comissão da Verdade da UESC-ADUSC, na primeira intervenção foi feito um repasse histórico das demais Comissões, que relataram como saldo de pesquisas, cerca de 80 entrevistas com vitimas da ditadura, com as famílias, destacando a condição dos estudantes, como as principais vítimas (no meio universitário) da violência política da ditadura militar. Com raptos, prisões durante a madrugada que traumatizaram muitas famílias. Enfatizou também, a supressão da palavra justiça, e o reconhecimento da sobrevida de aspectos fortes da estrutura administrativa ditatorial identificada como entulho político e empecilho da democratização do país.

“Foi uma experiência importante, na minha condição de membro de uma comissão da verdade – a comissão da verdade da UESC, que está iniciando seus trabalhos. Os relatos de comissões que já concluíram a primeira parte dos seus estudos, apresentando suas metodologias, articulação repressão política na universidade com a repressão política na sub-região, fatos importantes locais, que sem dúvidas, nos auxilia nos embates”, explica o professor Paulo.

Seguindo a programação do evento, uma das mesas, trouxe o debate com o subtema “Ditadura, Oligarquias e Repressão aos Movimentos Rurais no Nordeste Brasileiro”, espaço em que o professor, pesquisador e membro da diretoria da ADUSC, Marcelo Lins, foi convidado a apresentar o seu projeto de pesquisa, acerca da formação da propriedade rural na região sul da Bahia e dos mecanismos de concentração da terra, expropriação e exploração do trabalhador rural.

Além da extrema exploração dos trabalhadores na lavoura cacaueira, o professor Marcelo falou das diferentes formas de organização e resistência, em diferentes períodos da História. E levantou a seguinte sinalização, alguns setores da sociedade brasileira, como trabalhadores camponeses e índios, sempre foram brutalmente perseguidos em suas organizações e lutas. “Essas movimentações dos trabalhadores eram o suficiente para justificar a repressão, prisões, assassinatos e desaparecimentos. Nesse contexto, vale lembrar, que parte significativa dos mortos em conflitos, quando são contabilizados, são considerados como conflitos agrários, e não entre os mortos pela ditadura”, explicou Marcelo.

Desde 2013, quando o ANDES-Sindicato Nacional criou sua própria Comissão da Verdade, a entidade vem estreitando estudos e lutas com movimentos sociais, no intuito de contribuir na busca da verdade dos fatos ocorridos na ditadura empresarial-militar e na luta pela revogação da anistia.

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